A bela história da merendeira pernambucana, Ivete Maria da Silva

(fonte: SEE)
 
Ivete Maria da Silva, 40 anos, exerce uma das funções mais importantes das nossas escolas: a de merendeira. Há três anos, ela ingressou na equipe do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Poeta Joaquim Cardozo, em Tejipió, no Recife, e vem contribuindo, desde então, para o processo de aprendizado dos mais de 700 estudantes da unidade de ensino. É ela quem comanda a cozinha com mais duas colegas de profissão. Além de cozinhar, organizar filas, servir, selecionar os melhores ingredientes e tornar o momento da refeição o mais prazeroso possível, Ivete cuida dos estudantes como se fossem seus filhos.

Foto: Pedro Menezes

A merendeira é natural de Aliança, na Zona da Mata do Estado, e é dona de uma história de vida de luta e superação. Aos 4 anos, perdeu sua mãe e passou a ser criada pelo pai, que cuidava dela e das 12 irmãs com muita dificuldade. Quando atingiu a maioridade, Ivete se mudou para a capital pernambucana, onde casou e teve dois filhos. O casamento não deu certo e ela teve que criar os dois meninos sozinha com a pequena renda da venda de produtos cosméticos. “Era um tempo muito difícil. Tinha dia que a minha refeição era uma pipoca. Batalhei muito para não deixar faltar nada em casa. Criei meus dois filhos com a mesma garra que meu pai criou a mim e as minhas irmãs”, conta, emocionada.

Foto: Pedro Menezes

Em uma das vendas, Ivete foi parar no Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco, onde contou a sua história e conseguiu participar de um processo seletivo para a vaga de merendeira. “Eu sempre coloquei Deus em primeiro lugar em tudo, e tinha fé que aquela situação ia mudar. Hoje eu tenho meus dois filhos adultos, muito bem-criados, e me orgulho de mim mesma quando lembro de tudo o que passei. É muito difícil ser mulher, ser mãe solteira e ser pobre”, declara Ivete.

Foto: Pedro Menezes

O mesmo carinho com que conta a sua história, ela serve a comida aos alunos. E o motivo é emocionante. “Muitos estudantes daqui não têm comida em casa, passam necessidades. Vejo neles a realidade difícil a qual eu vivi. Acho que trabalho num cargo que é bem próximo a eles, porque é aqui nessa mesa que eles desabafam, contam segredos, pedem conselhos. E é na cozinha que a gente percebe o quanto a minha profissão é importante, pois sem alimento ninguém sobrevive, ninguém produz, ninguém estuda, ninguém sonha”, acrescenta a merendeira, enquanto abraça a aluna Ana Cristina de Fátima.
 
“Ivete é muito mãe com a gente. Sempre que chego na escola, venho dar um cheiro nela, saber como ela está. É uma mulher que merece todas as homenagens, me emociono só em falar. É uma guerreira que a gente tem que valorizar. Sem ela, a escola não teria graça”, conta a estudante. Para a merendeira, um dos maiores desafios que a mulher encontra hoje na sociedade é a subestimação. “O momento mais difícil da minha vida foi quando me vi sozinha com meus dois filhos para criar. As pessoas comentavam: ‘mas ela vive de vendas, coloca comida pra dentro de casa e ainda paga aluguel’. Eu nunca dei ouvidos a isso. Machucava muito, mas sempre erguia a cabeça no final. Hoje eu digo com muito orgulho e com todas as letras que passei por muitos obstáculos e venci na vida”.

Notícias Recentes