Após quase dois anos desempregado, ex-cobrador consegue emprego no Recife

(fonte: Diario de Pernambuco)
 
Alcicleiton Fonseca da Silva, 22 anos, conseguiu um emprego. Aconteceu um ano e oito meses depois de sair de sua última ocupação com carteira assinada. A vaga surgiu em um dos momentos mais difíceis de sua vida. Quando a ameaça de faltar alimento para o filho ainda pequeno e a companheira era diária. Inspirado em uma cena flagrada por ele próprio na rua, preparou um cartaz com a frase “preciso de trabalho” e o número do celular. Depois, partiu para a Avenida Agamenon Magalhães, na altura da Praça do Derby.
 
No primeiro dia, foi contratado temporariamente para serviços de pintura e manutenção em um prédio no Derby. Na segunda tentativa, voltou para casa cansado e sem serviço. A vaga de emprego com carteira assinada surgiu na terceira ida às ruas com o cartaz. Cleiton agora é auxiliar de serviços gerais. Trabalha de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h, na Defensoria Pública, na Rua Marquês do Amorim, na Boa Vista.
 
Cleiton está agradecido. Viveu tempos difíceis que, na verdade, ainda não cessaram. O contrato é recente e o primeiro salário ainda não saiu. Mas tem algo que Cleiton faz questão de dizer. A profissão de seus sonhos é ser motorista. Tem, inclusive, Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria D, o que implica dirigir caminhões também.
 
Desde sua demissão do cargo de cobrador em uma empresa de ônibus, Cleiton seguia quase todos os dias para a agência do trabalho, na Rua da Aurora. Um dia, um funcionário lhe disse para procurar a vaga pela internet. “Há cinco anos trabalho aqui e há dois anos não dou emprego a ninguém. As pessoas já ficam sabendo das vagas pela internet”, disse o tal funcionário para ele. Cleiton, com ensino médio completo, partiu então para outras oportunidades.
 
No Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa), chegou a fazer descarga de caminhões. Sem muita experiência, passou a ser preterido. Chegava ao lugar ainda de madrugada. Mas teve dia de voltar para casa sem serviço. “Quando conseguia ser chamado, trazia pelo menos a lata de leite do menino. Mas começaram a querer somente quem tinha manejo para lidar com descarga.”
 
Em casa, dependem dele a companheira Priscilla Rayane Alves do Monte, 24, com quem está casado há dois anos, e o filho de um ano e quatro meses do casal. Priscilla também espera um bebê, que deve nascer dentro de dois meses. “Muitas vezes tô cansado dessa luta, mas chego em casa e vejo meu filho bem tratado, com comida e saúde, aí fico bem.”
 
Priscilla anda cheia de esperanças com o novo contrato. “Teve dia de achar que não ia conseguir o leite de nosso filho. Já trabalhei, mas agora não tenho como voltar ao mercado porque não tem quem fique com meu próximo bebê.” Além do menino de um ano e quatro meses, ela tem mais duas crianças de outro relacionamento que vivem com a mãe dela.
 
A vaga de Cleiton quem conseguiu foi o defensor público geral de Pernambuco, Manoel Jerônimo. Depois de ver a foto com o jovem circulando nas redes sociais, Manoel foi até a Agamenon Magalhães e convidou Cleiton para uma entrevista. Foi no dia 25, última vez dele nas ruas segurando o cartaz. “Chegou aos meus ouvidos a história desse homem apelando por um emprego. Passei por lá porque meu coração pediu. Foi algo espiritual mesmo”, explicou Manoel, que há oito anos é defensor público e há quatro atua como defensor público geral.
 
Cleiton chegou a trabalhar um dia em um terminal de ônibus no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana. Mas como mora em Nova Descoberta, no Recife, precisava sair de casa ainda de madrugada. Conversou com Manoel Jerônimo e conseguiu a transferência para o prédio da Defensoria, onde começou na última segunda-feira. Cleiton anda até atendendo ao telefone com uma voz mais alegre. Talvez seja a certeza de poder garantir algo para sua família no final do mês.

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