Copa do Mundo: Impactos

safe_imageA cidade, em outros tempos, era concebida como um lócus de modernidade e livre exercício da democracia na medida em que se vislumbrava um espaço que possibilitava aos indivíduos construírem seus direitos e suas reivindicações político-sociais. Em contrapartida a esse ideário de cidade, os impactos da globalização e as mudanças no processo de produção, consumo e comercialização nas grandes cidades, promoveu a emergência de uma nova ordem sócio-espacial. O planejamento urbano, deste modo, passou a ser mediado pelo conceito de Cidade Global e pelos novos usos da cidade.

É importante notar como o conceito de Cidade Global reproduz uma lógica de apropriação do espaço urbano pelo capital. Os novos usos da cidade com a perda do seu caráter industrial e o crescimento do setor intermediário de serviços promoveu uma dinâmica econômica diferenciada, mas, sobretudo, uma expansão urbana marcada pelos ditames mercadológicos no espaço público.

A cidade passou a ter um papel que se contrapõe a ideia de lócus da modernidade e de democracia devido a presença de uma estrutura social cada vez mais dividida. No caso do Brasil, a incorporação do país em uma economia globalizada trouxe, portanto, para além de benefícios sócio-econômicos, o aumento da exclusão e das desigualdades sociais.

Essa compreensão acerca da dinâmica sócio-espacial é necessária para a reflexão acerca das ações que têm sido promovidas para a realização da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. É possível notar que essas ações têm potencializado ainda mais as desigualdades sócio-espaciais e a violação dos direitos humanos no país.

A Copa do Mundo está sendo pensada para quem?

Desde que o Brasil foi anunciado em 2007 como a sede da Copa do Mundo de 2014 que uma série de intervenções tem sido empreendidas no espaço urbano para adequá-lo para recepção deste Megaevento. Infelizmente uma lógica perversa tem predominado: as intervenções são feitas sem devida análise do impacto que trazem para o espaço público ocasionando em consequências perversas para a sociedade. Os despejos compulsórios de comunidades carentes, a especulação imobiliária e a privatização do espaço público são apenas alguns dos resultados do que vêm ocorrendo dentro deste panorama pré-copa. Nessa perspectiva, tais problemáticas quanto aos usos da cidade nos fazem lançar mão das seguintes questões: Para quem está sendo pensada a Copa do Mundo de 2014? Para o domínio público que sofre com a maior parte das intervenções que vêm sendo feitas? Ou para o domínio privado, representado pelas grandes empreiteiras que ficarão responsáveis pela administração das obras bem como pelos lucros advindos delas?

Fonte: Secretaria de Direitos Humanos – SDH – 2012

Fonte: Secretaria de Direitos Humanos – SDH – 2012

A Copa do Mundo em Pernambuco

No caso de Pernambuco, assim como nas demais 11 cidades-sede da Copa, os transtornos têm sido recorrentes: desde remoções compulsórias de famílias situadas, especialmente, em locais compreendidos pelas obras até o baixo ressarcimento por estes despejos. Soma-se a isso, as obras que estão em curso arregimentando altos custos e baixo planejamento urbano – com a consequente degradação do meio ambiente. Para além disso, Megaeventos, tais como a Copa, costumam potencializar as violações dos direitos das crianças e adolescentes com aumento dos casos de exploração sexual comercial desse público vulnerável, devido sua condição de pessoa em desenvolvimento. Nota-se também o aumento de casos de mães adolescentes solteiras devido a relacionamentos estabelecidos com os trabalhadores das obras, que muitas vezes apenas prometem um futuro melhor relegando posteriormente seus deveres inerentes a paternidade. É importante salientar que a Constituição federal, Art. 227 e o ECA (Art. 4°) determina que crianças e adolescentes devam ser tratados com prioridade absoluta. De acordo com os princípios da indivisibilidade e da interdependência dos direitos humanos, faz-se necessário, para que o público infanto-juvenil viva com dignidade, que direitos como: educação, saúde moradia, profissionalização e lazer sejam priorizados.

Como é possível notar, a Copa do Mundo tem trazido não apenas os benefícios que costumam ser evidenciados, sobretudo pela mídia corporativa, tais como: desenvolvimento econômico, aumento da oferta de emprego e valorização da cidade. Mas, mais do que isto, tem reverberado no aumento da violação dos direitos humanos, perpassando desde os direitos infanto-juvenis, até o direito a moradia digna, direito a cidade sustentável, direito ao trabalho e a defesa do meio ambiente sustentável. Tais problemáticas sociais são pouco evidenciadas em meio a evocação nacionalista que acomete a sociedade nesse período e nos deixam céticos quanto ao legado positivo que esse Megaevento trará para o país. As possibilidades de benefícios sociais e econômicos arregimentados com a Copa dificilmente suplantarão os altos custos sociais que temos visto, como a exemplo das comunidades que foram privadas dos seus vínculos sociais em decorrência do seu esfacelamento para recepção das obras para Copa.

Os Megaeventos servem, portanto, como uma robusta estratégia de marketing para colocar o espaço público sob o poder do mercado na medida em que se vislumbra a atração de investimentos para tornar a cidade mais competitiva e mais atrativa para sua livre comercialização. Dito de outro modo, a Copa do Mundo de 2014, que ocorrerá no Brasil, serve como uma estratégia publicitária para a livre comercialização da cidade. Fica, portanto, o alerta feito pelo Geógrafo David Harvey em referência as ações que têm ocorrido no Rio de Janeiro devido a Copa: “É um processo de acumulação por espoliação. Os jogos têm servido para isso. Todos sabem que há tempos os jogos estão a serviço da especulação imobiliária. Porque continuamos caindo nisso?”.

Portal Popular da Copa e das Olimpíadas: http://www.portalpopulardacopa.org.br (link)

Confira abaixo vídeos sobre os impactos da Copa no Brasil:

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