Joaquim Barbosa, incógnita na eleição presidencial

(fonte: Carta Capital)
 
Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, filiou-se discretamente ao PSB, na sexta-feira 6, para concorrer ao Palácio do Planalto. Ele não tem a garantia de que será lançado candidato, uma decisão a ser tomada pelo partido apenas em julho, mas é uma novidade a despertar curiosidade no mais imprevisível xadrez eleitoral desde 1989.
 
O ex-juiz foi contra o impeachment de Dilma Rousseff, chamado por ele de “Tabajara” e “espetáculo patético”, não ataca o ex-presidente Lula, em quem inclusive já disse publicamente ter votado no passado, e é negro. Credenciais capazes de atrair votos progressistas.
 
A sigla escolhida para sua filiação é um sinal a esses eleitores. O PSB apoiou a queda de Dilma, mas no governo Michel Temer passou a tentar uma reconciliação com esse eleitorado, por causa da agenda neoliberal do presidente, de congelamento de gastos sociais e reformas antipopulares.
 
“O Joaquim Barbosa vai ser o candidato da esquerda no segundo turno, vai fazer campanha contra as desigualdades”, diz o deputado carioca Alessandro Molon, eleito em 2014 pelo PT e que acaba de trocar a Rede de Marina Silva pelo PSB.
 
No Congresso, um parlamentar diz que no fim do ano passado o ex-presidente Lula mostrava interesse em conhecer os planos presidenciais de Barbosa. Teria até sondado o ex-juiz, via emissários, sobre a disposição de concorrer pelo PT.
 
Certos petistas veem a eventual candidatura de Barbosa com um misto de curiosidade e preocupação. As circunstâncias farão dele de fato o “candidato da esquerda no segundo turno”?
 
Na cúpula do PT, há, porém, mágoa com o ex-juiz, devido a sua atuação em 2012 no julgamento do “mensalão”, a avant premiére da Operação Lava Jato.
 
Essa atuação fez de Barbosa um ancestral do juiz Sérgio Moro, o que talvez permita-lhe conseguir eleitores conservadores nestes tempos de Justiça justiceira. Idem para o fato de ser de família pobre e ter subido na vida por esforço próprio, o que poderia ser vendido na campanha como meritocracia.
 
São elementos levados em conta nos cálculos do PSB. Sua filiação foi selada em 29 de março, durante um café com o presidente do partido, Carlos Siqueira, e Molon.
 
O namoro era antigo, mas Barbosa só se decidiu perto do fim do prazo para filiações (6 de abril), pois queria da legenda a certeza de sua candidatura. Convenceu-se a entrar mesmo sem isso e a trabalhar para a amadurecer a ideia entre os correligionários.
 
“Tal arranjo me convém, pois ainda questiono se devo ou não ingressar na disputa político-eleitoral”, escreveu Barbosa em uma rede social.
 
No mesmo texto, o ex-juiz diz ter sido estimulado por amigos no ano passado a pensar em disputar eleições, que manteve conversas com vários partidos e que “as mais construtivas e consequentes” foram com o PSB.
 
O presidente do partido é um defensor da candidatura própria, mas não há unanimidade no PSB. Siqueira acha que a crise política é uma crise dos partidos, da incapacidade deles de se reinventarem, de formarem quadros novos. Costuma dizer que “não se inova com os mesmos”.
 
Sua primeira opção para presidenciável tinha perfil semelhante, Carlos Ayres Britto, o comandante do STF na conclusão do julgamento do “mensalão” petista. Também foi indicado por Lula ao Supremo e filiado ao PT, além de ser outro crítico do impeachment.
 
Britto chegou a ser convidado a entrar no PSB para se candidatar a presidente e não quis. Alegou que a família resistiu à ideia de uma mudança tão grande de vida. Mas assinou a ficha do partido nesta sexta-feira 6, para ajudar a dobrar os hesitantes quanto à ideia de se ter um presidenciável.
 
O PSB já teve juiz do Supremo. Foi Evandro Lins e Silva, um dos fundadores em 1947 da Esquerda Democrática, movimento que daria origem à legenda. Lins e Silva chegou ao STF em 1963, no governo do presidente deposto no ano seguinte João Goulart, e foi cassado pela ditadura militar em 1969.
 
Uma decisão do partido sobre a candidatura sairá em julho, quando a legenda realiza a convenção que definirá seu papel na eleição. O prazo para o registro de chapas termina em 15 de agosto. Será a campanha mais disputada e imprevisível desde 1989, a julgar pelo rascunho da cédula hoje.
 
Pelo campo progressista, estão prontos para disputar: Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL), Manuela D’Ávila (PCdoB), Vera Lúcia (PSTU), além de Lula, uma enorme indefinição.
 
À direita estão Alvaro Dias (Podemos), Flavio Rocha (PRB), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL), João Amoêdo (Novo), Paulo Rabello de Castro (PSC), Rodrigo Maia (DEM), além da incerteza de Temer.
 
Há ainda Marina Silva, da Rede.
 
O motivo de tantas candidaturas? Primeiramente, a Lava Jato, na avaliação do cientista político Adriano Codato, editor da revista Sociologia e Política da Universidade Federal do Paraná.
 
“A desarrumação que o sistema jurídico provocou na política causou descrédito nas lideranças tradicionais”, afirma. Com o PT atingido, há espaço vazio à esquerda. Idem à direita, com o enfraquecimento do PSDB.
 
Além disso, diz Codato, sempre há candidatura cujo objetivo é servir de barganha para seu partido (qualquer que seja) negociar com outros. “O quadro é de muita incerteza. Até por termos uma regra nova, não haverá financiamento empresarial, talvez os franco-atiradores se animem a disputar.”

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