Pernambuco é o estado mais intolerante do Nordeste

(fonte: Diário de Pernambuco)
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Pelo retrato tirado das redes sociais nos últimos três meses, é possível visualizar que os candidatos a prefeito de Pernambuco terão dificuldade de apresentar suas propostas aos eleitores, cada vez mais resistentes a trocar ideias sem brigas. Em levantamento exclusivo feito pelo Comunica que Muda, uma iniciativa da agência nova/sb, observou-se que, entre os nove estados do Nordeste, Pernambuco é o mais intolerante em relação à política, tanto em termos absolutos como proporcionais – este último leva em consideração o tamanho da população (9,4 milhões de pessoas, segundo estimativas do IBGE). Em termos proporcionais, o Rio Grande do Norte é mais tolerante da região nordestina.
Convento de São Francisco, convento franciscano mais antigo do Brasil, localizado em Olinda. | Fonte: Wikipédia

Convento de São Francisco, convento franciscano mais antigo do Brasil, localizado em Olinda. | Fonte: Wikipédia

O resultado é fruto de um monitoramento feito de abril a junho deste ano, durante 24 horas ao dia, em 392.284 posts do Facebook, Twitter, Instagram, blogs e sites, visando estimular a produção de políticas públicas que ajudem a mudar comportamentos negativos. O projeto observou intolerância e agressividade das pessoas em dez assuntos no Brasil. Entre eles política, mulheres, homossexualidade, racismo, religião e classe social – temas bastante presentes na sociedade. Segundo essa análise, a negatividade nos assuntos que tratam de racismo e política ficou praticamente empatada com 97,6% e 97,4%, respectivamente. A resposta indica que todos os comentários positivos ou neutros em relação à cor da pele ou aos políticos foram encobertos.
 
É importante fazer a ressalva que, nesse espaço de tempo do monitoramento, houve a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) pelo Senado, a posse interina de Michel Temer (PMDB), o caso conhecido como “o estupro dos 30”, o aumento de atentados no mundo e de casos polêmicos de racismo. Parte dos temas turbinou a misoginia (ódio às mulheres), por exemplo, nas redes sociais. “A intolerância política está em todas as partes do Brasil, mas Pernambuco foi o estado do Nordeste que capturou a maior capacidade de menções de intolerância”, disse Caio Túlio Costa, jornalista responsável pela coordenação dessa análise. Ele frisa, como contraponto, haver uma predominância de resposta menos agressivas no debate de temas polêmicos no Rio Grande do Norte. “Chegamos à conclusão que essa intolerância aparece tão aguda por conta do momento atual embate político ideológico no país”.
 
Caio Túlio Costa ressalta que o monitoramento não explica as causas de determinado estado aparecer com um nível tão alto de intolerância. Mas sugere áreas onde o poder público pode atuar e aprofundar políticas públicas. Em termos absolutos, o Rio de Janeiro é o mais negativista, porém quando se comparam a quantidade de comentários feitos nas redes sociais com o tamanho da população desse estado, o maior grau de intolerância do Brasil está no Distrito Federal, enquanto Pernambuco é o primeiro do Nordeste, um pouco à frente do Ceará. “Nos três meses, houve 280 mil menções que tratam de intolerância na política e foram negativas”, observa Caio.
 
Apesar do histórico de rebeldia de Pernambuco, que se autoproclamou como país, em 1817, e chegou a formar uma nação com outros estados do Nordeste, as impressões colhidas nas redes sociais pelo monitoramento mostram uma aproximação com o conservadorismo. A intolerância é muito alta nos debates políticos, mas o internauta pernambucano conseguiu sair campeão no tocante ao ódio contra as mulheres, bem como no preconceito racial, no preconceito de classe social e religioso. O conhecido bairrismo pernambucano, que gosta de ser maior em tudo, precisa voltar a caminhos menos tortuosos.

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