“Bi” ou “not tú bi”? Eis a apreensão

Vemos o aumento constante da facilidade ao acesso e a melhora em todas as áreas da educação, mas o ensino de idiomas nas escolas ainda é muito limitado na maioria delas. Eu me lembro muito bem de haver tido uma conversa com a mãe de um amigo, sobre a experiência dela no ensino médio. Ela lutava contra o sistema de ensino, alegando que estava aprendendo algo que nunca iria utilizar: “Meu professor de matemática teve muita dificuldade para me ensinar, porque eu já sabia e queria ser dona de casa, então eu não tinha interesse algum em aprender por exemplo, a raiz quadrada dos números. Eu nunca compraria a raiz quadrada de uma laranja na feira, então por que precisaria disso?”.

A linha de raciocínio pode parecer muito estranha para muitos nos dias de hoje, mas vem de um pensamento extremamente prático. Não vou discutir a importância da raiz quadrada, mas sim chamar atenção para o fato de que muita gente não quer aprender algo que pode ser inútil.

E é aí que volto ao ensino de idiomas nas escolas.

Como professor do CCAA, eu muitas vezes ensino turmas iniciantes e uma das coisas que falo é sobre o ensino do inglês nas escolas; brincando com uma situação que acontecia muito no passado e não posso dizer que sumiu nos dias de hoje: “Bem, aprender inglês na escola era fácil, porque você estudava o verb to be na quinta série, aí na sexta iria ver ele novamente, assim como nas sétima, oitava e nos três anos do ensino médio. São sete anos estudando o verb to be, ou seja, você sai do ensino médio com um mestrado na área”. Eu sempre arranco risos de todos, isso acaba ajudando a criar uma atmosfera boa na aula.

O professor Erivando Queiroz e alunos calouros de uma turma do CCAA | Foto: ilustração

O professor Erivando Queiroz e alunos calouros de uma turma do CCAA | Foto: ilustração

O lado triste da coisa é que a piada parte de uma realidade que talvez até hoje esteja presente na rotina de alunos do Brasil todo, mas de onde vem esse problema?

1 – “O tronco” do problema: Quando somos expostos aos idiomas estrangeiros na escola, apenas aprendemos regras gramaticais, além de vocabulário, muitas vezes descontextualizado, o que dificulta a fixação do que é aprendido. Além disso, muitas vezes o assunto é ensinado na segunda-feira e um exercício para casa é proposto para a próxima aula. O aluno acaba deixando para o final de semana e quando vai fazer a tarefa de casa já esqueceu da explicação. A falta de uso só atrapalha, afinal. Embora esse problema de contextualização tenha sido resolvido com o tempo, o “monstro” do ensino das línguas estrangeiras é que nunca usamos elas dentro da sala de aula, ao menos não como deveríamos. Quando aprendemos que I am significa “eu sou/estou”, não nos é dada a chance de falar nosso próprio nome, “I am Eri”. Obviamente isso não acontece porque os professores proíbem o uso do idioma na sala, mas sim, por a grande maioria simplesmente não encorajar os alunos a fazê-lo, seja por falta de conhecimento ou por simplesmente não ver “utilidade” nesse tipo de atividade. É difícil mudar um sistema que te criou tão “bem” nele. E a bola de neve só fica maior.

Alunos do Preteens 2 (CCAA) | Foto: ilustração

Alunos do Preteens 2 (CCAA) | Foto: ilustração

2 – “A raiz” do problema: Por quê será que os professores não estimulam o uso dos idiomas na sala de aula? A resposta é curta e grossa: A maioria simplesmente não sabe falar e não vai ensinar o que não sabe. A tapa, no entanto, para antes de chegar no rosto. Os professores não são culpados (quem quer vai atrás, mas também não é assim) por não saberem, pois as universidades simplesmente também não ensinam ao aluno a fala do idioma. Os cursos de licenciatura afogam o aluno com disciplinas como: História da Educação no Brasil, Filosofia da Educação, Políticas Públicas e Organização da Educação Básica. Estou longe de dizer que essas “cadeiras” são inúteis, mas no meio desse espaço poderia ter algo mais direto no uso da fala, e a fala é o objetivo principal do estudo de uma língua, na opinião de muitos. Eu também sou aluno de Letras e tenho cadeiras como “Prática Oral da Língua Inglesa”, mas a cadeira é ineficiente. Por trabalhar na área, eu conheço muitos professores e alunos de Licenciatura, e sempre ouço o mesmo. Tem professores que até tentam, mas no final ninguém fala nada, seja por o professor não tentar novamente depois do primeiro “eu não vou falar” recebido, ou pelo “simplesmente não me importo”, que é algo assombroso que tenho escutado de vários amigos que estudam em diferentes faculdades. Eles passam no concurso, aí depois que estão garantidos dão aula mal. Isso quando ensinam e ainda nem podemos reclamar, ou quem se prejudica somos nós. Essa parte, felizmente não cobre a maioria os professores de cursos superiores, ou assim espero.

No final das contas, muito precisa ser mudado: Desde quem ensinam aos alunos quanto aos formadores de professores. Quem quer aprender pode recorrer aos cursos, sejam eles gratuitos ou não. A vontade de estudar é o que faz a diferença. O NEL, por exemplo, é uma ótima alternativa para quem mora em Surubim e quer aprender Inglês e Espanhol. De fato, eu fui um dos alunos do curso, e tirei tanto proveito quanto pude dele. O curso é gratuito e tem sede na Escola Maria Cecília. A situação está mudando devagar, pois há professores tentando introduzir essa visão para os alunos, como o professor Polank da Escola Técnica de nossa cidade, entre mais alguns. O acesso aos idiomas nos dias de hoje está mais fácil, mas esses cursos oferecidos de graça, embora se mostrem como avanços, são nada menos que a tentativa de corrigir um sistema de ensino de idiomas tão velho quanto falho.

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