Com barragem de Jucazinho seca, moradores perdem safras e recorrem a cisternas

Barragem de Jucazinho secou há cinco meses e prejudicou mais de 800 mil pessoas (Foto: Joalline Nascimento/G1)

Barragem de Jucazinho secou há cinco meses e prejudicou mais de 800 mil pessoas (Foto: Joalline Nascimento/G1)

(fonte: G1)
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A imagem da barragem de Jucazinho cheia de água está apenas na lembrança dos moradores de Surubim, no Agreste de Pernambuco. O reservatório, que abastecia cerca de 800 mil pessoas de 15 municípios do estado, está seco há cinco meses devido ao sexto ano consecutivo de seca. Cidades da região entraram em colapso, e até mesmo a palma, um tipo de cacto característico da região, está morrendo com a falta de água. Para conseguir sobreviver, moradores têm que recorrer a água de caminhões-pipa e de cisternas comunitárias.
 
O agricultor Luiz Carlos Silva, de 40 anos, sustentava a família com plantações de milho e feijão, mas a situação mudou no último ano. “Não tem água. Não tenho onde plantar. Perdi minha renda e meu trabalho”, lamenta. “Agora, tiro minha renda do Bolsa Família, mas ainda assim é difícil. Eu moro com mais três pessoas em casa: minha esposa, minha vó e meu filho (que tem necessidades especiais). A falta de água prejudicou tudo”, afirma o agricultor. Desde outubro de 2016, o reservatório de Jucazinho – que é o terceiro maior de Pernambuco – está totalmente seco. Capaz de comportar 327.035.818 milhões de m³, a última vez que Jucazinho chegou a 100% do volume foi em setembro de 2011. “Antes, ninguém nunca ia imaginar que a barragem ia ‘sangrar’. Agora, a gente olha e não tem nada”, afirma a dona de casa Rafaela Severina de Lima, de 33 anos.
Luiz Carlos é agricultor e perdeu fonte da renda familiar com a falta de água (Foto: Joalline Nascimento/G1)

Luiz Carlos é agricultor e perdeu fonte da renda familiar com a falta de água (Foto: Joalline Nascimento/G1)

Rafaela mora com mais três pessoas e diz que há mais de um ano não vê água nas torneiras. “Reaproveito de todas as formas que eu posso”, destaca. A comunidade do Cajá, onde vive, tem uma cisterna comunitária que comporta cerca de 16 mil litros de água, mas não é o suficiente. “Quando falta, tenho que comprar. Já cheguei a gastar R$ 200 por mês”, afirma a dona de casa. A também dona de casa Josefa Nascimento, de 54 anos, mora na mesma comunidade de Rafaela e Luiz Carlos. Ao G1, ela conta o que tem feito para driblar a falta de água no município. “Está triste, muito difícil. Eu reaproveito a água da lavagem dos pratos e das roupas. É um sofrimento muito grande.”
 
De acordo com a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), os municípios que recebiam água de Jucazinho eram Caruaru, Bezerros, Santa Maria do Cambucá, Toritama, Vertentes, Frei Miguelinho, Vertente do Lério, Surubim, Casinhas, Salgadinho, Passira, Riacho das Almas, Cumaru, Gravatá e Santa Cruz do Capibaribe. Dos 15 municípios, apenas cinco têm outras fontes de água. “Fora Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru, Bezerros, Surubim e Gravatá, as outras dez cidades estão em total colapso e recebem água de caminhões-pipa, alem de cisternas comunitárias”, informa o gerente do Agreste central da Compesa, Mário Heitor Filho.
 
Obras
 
Ao G1, Mário Heitor ainda destaca que algumas obras estão em andamento para fazer com que os municípios em colapso recebam água em curto prazo. “Estamos tentando executar as obras do Pirangi e Serro Azul emergencialmente, para que possamos suprir a necessidade da população neste período em que não temos chuvas”, diz. O gerente da Compesa também ressalta que Jucazinho secou devido aos muitos anos de seca consecutivos que o estado enfrenta. Ele esclarece que a Companhia tem um sistema de monitoramento de seca nos reservatórios de água. “De acordo com a situação de cada manancial, vamos tomando algumas ações para usá-lo o maior tempo possível. Isso aconteceu com Jucazinho. Quando identificamos a situação, tiramos Caruaru do abastecimento, depois Bezerros e Gravatá. Isso foi feito para prolongar o uso do manancial”, detalha.
 
Em visita ao município de Surubim em dezembro de 2016, o presidente da República Michel Temer anunciou R$ 40 milhões para obras hídricas. Destes, R$ 12 milhões foram destinados à recuperação e modernização da barragem de Jucazinho. “A necessidade [da reforma] foi identificada a partir de diagnóstico feito pelo Dnocs [Departamento Nacional de Obras Contra as Secas]”, segundo o Ministério da Integração Nacional. Segundo Mário Heitor Filho, esta é uma seca histórica e “não tem como se precaver de uma seca tão severa”. Ele afirma que este período de falta de água durava de três a quatro anos, mas, atualmente, está durando quase o dobro do tempo normal.
Estradas rurais de Surubim retratam situação da seca no Agreste pernambucano (Foto: Joalline Nascimento/G1)

Estradas rurais de Surubim retratam situação da seca no Agreste pernambucano (Foto: Joalline Nascimento/G1)

Fenômenos influenciam a seca
 
A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) detalha ao G1 que as causas da ocorrência de seca no estado o e na região do semiárido nordestino “são complexas, pois a precipitação que ocorrer nesta região está relacionada a vários fenômenos meteorológicos que tem grandes variações no tempo e no espaço”. Conforme informa a Apac, o principal fenômeno natural que provoca a seca é o “El niño”, mas a Zona de Convergência Intertropical também tem influenciado na falta de água. “Este fenômeno interfere na temperatura das águas e dos oceanos”, destaca a Agência.
 
A Apac ainda explica que este é o sexto ano de seca que Pernambuco enfrenta. O último período forte de seca foi entre 1998 e 1999, associado ao “El Niño”, que teve seu início em 1997. Considerando apenas os meses de janeiro e fevereiro, o ano de 2017 foi mais seco que os dois anos anteriores, segundo a Apac. Neste ano, choveu 81% a menos que o esperado, enquanto que em 2015 e 2016 este valor foi de 59% a menos que o esperado e 36%, respectivamente.
Jucazinho em 2015 e em 2017 (Foto: Divulgação/Compesa;Joalline Nascimento/G1)

Jucazinho em 2015 e em 2017 (Foto: Divulgação/Compesa;Joalline Nascimento/G1)

Solo com características de seca
 
O G1 conversou com a professora Fabíola Gomes, que é graduada e mestre em engenharia civil. Ela afirmou que o ambiente no qual a barragem de Jucazinho está localizada é uma área própria da seca, de Caatinga e pedregosa. A professora afirma que os solos da região são minerais e não são ricos em água, com boa nutrição. “Nestes horizontes, comumente ocorre uma pedregosidade constituída predominantemente de calhaus, cascalhos e matacões de quartzo, às vezes distribuída apenas na superfície do solo. São moderadamente ácidos a praticamente alcalinos, com teores de alumínio extraível insignificantes ou nulos”, afirma.

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