Eleições: sobre as entrevistas do Jornal Nacional

(Escrito pelo jornalista Rafael Faustino)

Entrevistas oportunistas, baseadas em polêmicas e escândalos mal apurados pela própria mídia que interroga. Não se fala em direitos humanos, violência policial, as manifestações que eclodiram no ano passado, as recorrentes greves deste ano, transporte público, etc. Pouco tempo para responder, e ainda o necessário cuidado com a retórica e as armadilhas dos entrevistadores.

Ok, o Bonner tem uma posição de que é preciso aproveitar o espaço privilegiado do Jornal Nacional para colocar os candidatos contra a parede. Aceito isso, embora não concorde, e, passada a entrevista com Dilma, deu pra notar, ao menos, tratamento semelhante aos três que foram ao ar.

Ok, o formato da entrevista limita os entrevistados. Mas eles, de uma forma ou de outra, têm ali um tempo à sua disposição para exporem essas contradições da cobertura midiática – que, afinal, afetam suas administrações – e colocarem suas ideias sobre o sistema político, as necessidades do país e ao menos um resuminho do que poderia ser feito para sanar algumas delas.

JN: William Bonner e Patricia Poeta | Foto Alexandre Durão

JN: William Bonner e Patricia Poeta | Foto Alexandre Durão

E não sai nada! De Aécio se ouve que “vai fazer o que precisa ser feito para recolocar o país nos trilhos”, e constata-se que ele mesmo não sabe o que é, já que nunca passa disso. Do falecido Campos vinha uma “terceira via”, sustentada pelos mesmos que financiam as outras duas, e uma “nova política”, daquele que foi Ministro e Governador aclamado com a ajuda de quem hoje ele criticava. De Marina, que agora tocará o barco do PSB, também não virá nada novo. E da atual Presidenta o melhor que temos são referências ao seu antecessor – quatro anos depois de eleita –, além de tergiversações para fingir que o atual Governo não pode responder por problemas históricos, mas é o único responsável pelos poucos aspectos positivos que podemos elencar no Brasil, hoje.

E o que tenho visto pela internet são discussões sobre quem é o menos ligado a fundamentalismo religioso, qual escândalo roubou mais dinheiro, qual partido tem menos governadores que, por meio das polícias, baixam a porrada na população pobre, etc. Uma eterna busca pelo “menos pior” e um grande esforço para esconder o que está escancarado até no horário nobre: ressalvadas algumas nuances, são todos iguaizinhos.

Vestígio algum de qualquer solução passará pelo Jornal Nacional, pois, afinal, nenhum candidato socialista foi convidado. Que venham os debates e a propaganda partidária, então. E aí, no pouquíssimo tempo disponível, vamos colocando os pingos nos “is”.

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