Surubim não tem Cais (Estelita), mas tem Usina!

Em 21 de maio do corrente ano, numa noite de quarta-feira, bem no meio da semana, chegaram às máquinas para derrubar os galpões do Cais José Estelita, em Recife. “Não passam de galpões velhos, utilizados como ponto de consumo de drogas”, dizia parte da população, apoiando a empreitada do Consórcio Novo Recife, na construção de enormes torres (o avanço, a modernidade, a Veneza brasileira querendo se tornar Dubai!).

Mas, houve alguns ativistas de plantão na net que se articularam e chegaram lá pra “barrar” a ação ilícita que estava por ser consumada. Desde quando aprovado sabia-se das irregularidades do projeto, desde o leilão até as licitações. Destaca-se também a retirada da promotora Belize Câmara da Promotoria de Meio Ambiente, quando já havia dado início a diversas ações importantíssimas para a cidade, inclusive o Projeto Novo Recife foi um dos quais ela analisou, encontrou diversos problemas no mesmo e conseguiu que a Justiça suspendesse o processo de aprovação na Prefeitura.

Manifestnates: Cais José Estelita | Foto: divulgação

Manifestnates: Cais José Estelita | Foto: divulgação

Passando por cima de tudo isso estavam os interesses econômicos dos envolvidos e a passividade de parte da sociedade Recifense. Digo parte da sociedade porque o movimento Ocupe Estelita já existe desde 2012, não é de hoje que as pessoas discutem e são contra o projeto previsto pelas construtoras, contra a conivência do poder público com ele e a favor de um uso mais responsável e democrático dessa propriedade.

O que se viu depois daquele 21 de maio foi um movimento de ocupação do local que se iniciou com dezenas de pessoas e hoje se contabilizam milhares. Na área do Cais acontecem oficinas de mandala, de música, de horta, de grafitagem… Rodas de conversa, exibição de filmes, shows, recital de poesia; são planejadas as ações, reflexões sobre aquele espaço e o que o povo espera dele. Afinal, numa área que a prefeitura privatiza, o que era de toda população passa a servir apenas a uma parcela que tem como comprar seu espaço ali, e no final das contas isso custa a todos!

Porém, o que o restante do Estado tem a ver com isso? Qual a importância disso para Surubim? Surubim nem cais tem, muito menos esses problemas de cidade grande! Será?

Usina dos Farias | Foto: portal de Surubim

Usina dos Farias | Foto: portal de Surubim

As cidades de grande porte chegam, ou deveriam chegar, nessa dimensão após planos de desenvolvimento para crescer de forma organizada e garantindo qualidade de vida aos seus moradores. Isso pensando nos interesses de bem-estar coletivo. Mas, como se dá o crescimento das cidades do interior? De que forma os municípios recebem auxílio do Estado? Como se dá a entrada de grandes empresas e indústrias no território? Os impactos ao meio ambiente são avaliados? De que forma se planejam as ruas e praças? Os prédios públicos são estruturados para garantir acessibilidade? O que é feito para preservar o patrimônio histórico? Em qual momento a população é consultada sobre suas necessidades?

Sabe-se que muito é decidido pela gestão que ocupa o poder, logo, as praças e órgãos públicos mudam de cor a cada eleição. Contudo, não se restringe a isso, tem a questão do direito à moradia, ao saneamento básico, ao transporte, aos dispositivos de saúde e educação. Surubim é composto por vários bairros periféricos que desde a formação pouco evoluíram, são os últimos a serem contemplados com os avanços e ainda são tidos como os mais carentes e violentos. Ora, se uma cidade que conta com uma usina desativada bem no centro urbano (que tanto já se ouviu falar sobre seus possíveis destinos), não efetivou até hoje um projeto para tal espaço, imagina pensar numa cidade para o povo em detrimento aos interesses políticos que regem?

Por isso, é tempo de exercer o nosso protagonismo para dizer, reivindicar e construir a cidade que queremos. Interesses privatistas já existem; uma cidade antidemocrática, excludente e classista já existe; uma cidade pouco arborizada e com trânsito já existe; uma cidade com calçadas difíceis de caminhar já existe e diante dessas existências sabemos das inexistências, inclusive que inexiste a pressão popular de forma mais ativa. Vamos lembrar do carro de som que passa ao raiar do sol no dia 11 de setembro: “Acoooorda, Surubim!!!”. Mas, um “acorda” para além de abrir os olhos e levantar.

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