Surubinenses fazem som que até gringo aplaude

Stone Breeze: Wagner (teclados), Tontonho (baixo), Jones/Gordinho (vocal e guitarra), Tuca (guitarra solo) e Eduardo (bateria) | Foto: Wilson Fernades

Stone Breeze: Wagner (teclados), Tontonho (baixo), Jones/Gordinho (vocal e guitarra), Tuca (guitarra solo) e Eduardo (bateria) | Foto: Wilson Fernades

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OPINIÃO (escrita antes da saída do tecladista Wagner, que agora ficará encarregado da produção e mídia da banda) /// A banda surubinense Stone Breeze escolheu uma icônica noite de sábado (último dia 05 de março) pra apresentar ao grande público seu álbum de estreia, o homônimo “Stone Breeze“. Assim como na saudosa banda Hanagorik – banda anterior de três dos cinco “Stone Breezers” – Jones Sena (vocais e guitarra), Tuca Araújo (guitarra líder) e Tontonho Gomes (baixo) esbanjam talento, vitalidade e competência; dessa vez ancorados na juventude criativa de Wagner Melo (teclados) e Eduardo Souza (bateria).
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O álbum foi gravado e mixado no estúdio de Tuca (em Surubim) e masterizado na Áustria. Em cima da inevitável comparação entre as referidas bandas, o álbum apresenta pertinentes novidades, a começar pelo antagonismo: “Stone Breeze” não é um álbum que possui uma linha que o defina, não é um álbum conceitual como o Pet Sounds (The Beach Boys), Sgt Pepper’s (The Beatles) ou o Ziggy Stardust (David Bowie), por exemplo, (sendo essas referências ao trabalho do quinteto surubinense). As canções descrevem metafóricas e imaginárias ondas musicais com frequências e amplitudes distintas, mas que se encaixam num único continuum sonoro. Essa talvez seja a grande sacada do disco de estreia: não estereotipar a banda.
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Na tangente aos integrantes, Jones mostra versatilidade na interpretação das letras, hora em voz dobrada ou melódica, hora em falsetes ou agressividade, com forte influência do rock inglês e americano da década de 1980 e das bandas “noventistas”. Além disso, assume guitarra e violão base em algumas faixas, uma grata surpresa; Tuca assina a grande maioria das letras, todas em inglês. Suas guitarras nas diferentes faixas continuam marcantes, através de solos, riffs e fraseados que ratificam a competência que já lhe é peculiar; Tontonho consegue se destacar mesmo frente às guitarras de Tuca (e agora de Jones). A técnica apurada e o eterno “duelo melodioso” com a guitarra de Tuca agregam solidez ao som (os dois são uma espécie de Lennon e McCartney das bandas do agreste setentrional); Wagner amplia o leque exploratório da banda. Sua contribuição no teclado dá maior amplitude e profundidade ao som, lançando mão de efeitos modernos e dos já tradicionais timbres clássicos do instrumento; Eduardo se destaca pelo feeling, cumprindo seu papel de forma segura e firme, seja na cadência ou na aceleração. Seu entrosamento com o baixo de Tontonho traz a segurança rítmica que a banda precisa.
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A seguir traçarei uma análise superficial (mais sentimental do que musical) das 11 faixas do álbum:

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1 – “Intro”: Pra iniciar o álbum a banda traz uma fala num clima espacial, provavelmente transmitida em ondas de rádio, preparando o ouvinte pra uma espécie de “odisseia” sonora. A faixa traz também a ideia de inicio de uma jornada longínqua, que espero se referir à própria jornada da banda.
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2 – “Le Collectionneur”: Pra mim uma das mais belas do álbum. De autoria musical de Totonho, a faixa traz uma melodia diferente, talvez com uma pitada do charme francês que o nome sugere. Fica a impressão que se ela fosse mais leve (melódica) não prejudicaria em nada sua ideia. A guitarra é direta, discreta, sem dedilhados, com o teclado numa espécie de flange, uma bateria segura e um baixo marcante. Jones canta num misto de sentimentalismo e auto-estima a letra que Tuca conseguiu escrever com tremenda consonância à melodia. “(…)I won´t see you fly, I won’t see you cry…For you (…)”.
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3 – “I’ve got my pride”: Essa faixa swingada e quase dançante traz Jones cantando e tocando guitarra e Tuca mandando ver nos solos e fraseados, inclusive acompanhando a voz em alguns momentos (música e letra são dele). O swing do baixo e os backings vocais de Totonho e Wagner contribuem ainda mais pra um clima pop numa música com vocal rock. A bateria introduz viradas rápidas dentro de uma cadência de acompanhamento prazeroso. O teclado traz um timbre tradicional pra uma letra que trata de reviravolta sentimental: “(…) Someday you’re gonna see that I’m alive, love and hate are just two things that you can´t hide. I, I´ve got my pride (…)”.
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4 – “There’s no feeling”: Essa faixa é daquelas que se precisa escutar algumas vezes pra se perceber sua intenção (talvez por quebrar o clima mais elétrico da faixa anterior). Contudo, a cada vez que é escutada o nível de satisfação do ouvinte aumenta. There’s no feeling possui um teclado marcante desde o inicio, bateria em contratempos e backing vocais que complementam a ideia passada pela interpretação de Jones, que, aliás, traz um tom com alternância entre mansidão prepotente e a explosão de outrora. Acredito ser a faixa de participação mais discreta dos instrumentos de corda (guitarra e baixo), deixando propositalmente espaço pra Jones alertar e perguntar: “(…)Ah! There’s a war coming, Ah! There’s a fight coming, Ah! Can they count with you? There’s no feeling, You´re dead inside, yes I know(…)”.
A banda Stone Breeze se apresentando na Arena Gol (Surubim) | Foto: Wilson Fernandes

A banda Stone Breeze se apresentando na Arena Gol (Surubim) | Foto: Wilson Fernandes

5 – “Time to run”: Faixa mais rápida do álbum, traz de inicio a voz de um Jones escondido, com uma pitada de revolta, buscando atenção, reaparecendo no refrão de forma limpa e conclusiva “…I am just a puppet; I’m just a toy under control. I’m just a paranoiac freaky trying to save my soul…”. Nessa composição de Tuca, a banda emula artistas contemporâneos, como as composições do Scott Weiland, Dave Grohl e Them Crooked Vultures. A bateria de Eduardo traz uma levada naturalmente passiva de airdrums, com viradas rápidas e precisas. “Time to run” é um rock direto, onde a guitarra aparece com papel adjuvante, traçando caminho pra contribuição estrutural do baixo e do teclado.

6 – “Immigration man”: Essa é uma regravação da canção original do Graham Nash, lançada em 1972. A versão da Stone Breeze mantém a ideia sonora da original, adicionando uma pegada mais atual através de guitarras que dramatizam o tema. Immigration man traz à tona a problemática da imigração populacional, bastante recorrente nos dias de hoje. Possui o solo mais poderoso do álbum, com uma bateria marcada (por vezes lembrando uma marcha militar) e um clamor de vozes simbolizando os exilados “(…)Let me in, let me in, immigration man, Can I cross the line and pray, I can stay another day?(…)”. No final, a faixa sampleia trechos de reportagens em várias línguas (inclusive português) sobre o assunto. .

7- “The Weird man”: Música mais lenta e intimista do álbum. A gaita de fole já na introdução traz a certeza da influência inglesa na composição, assinada por Jones e Tuca. A guitarra em slide, o teclado lembrando os famosos órgãos religiosos e alguns backings vocais em distantes falsetes são elementos que trazem à faixa um clima de uma espécie de epitáfio sentimental. Bateria e baixo são cadenciados, para também funcionarem como elementos desse clima. O efeito oitentista dado à voz do Jones e a sua própria interpretação traduzem muito bem a letra emocional que fala de um homem diferente e introspectivo, que busca compreender seus sentimentos e que por vezes pede ajuda pra não falhar nisso. “If you have found, a clue in this sound, to know me at all, help me not to fall (…) Cause I’m weird man, i can feel this(…)”.

8 – “Fields of shame”: Essa é a faixa mais pesada do trabalho inicial da Stone Breeze, relembrando os tempos da banda Hanagorik. Contudo, a canção chama a atenção também pelo marcante trabalho dos teclados de Wagner. O timbre escolhido para os versos (agudo e com sustain a todo vapor) e o dedilhado oitavado nos refrões acrescentam muito à musicalidade da faixa. Eduardo consegue trazer interessantes viradas, perfeitas para as saídas do refrão até os versos, chamando sincronicamente o ritmo imposto pela guitarra de Tuca e o baixo de Tontonho. Fields of shame trata sobre a exploração da fé e vem como uma pedrada depois da calmaria da faixa anterior. A temática pede a agressividade na voz de Jones e samples com discursos religiosos complementam as afirmativas propostas na letra. “(…)They’re gonna kill your soul, and make you feel self-blame. They want you beg for hope, they wanna buy your faith (…)”.
Show contagiante: A banda Stone Breeze se apresentando na Arena Gol (Surubim) | Foto: Wilson Fernandes

Show contagiante: A banda Stone Breeze se apresentando na Arena Gol (Surubim) | Foto: Wilson Fernandes

9 – “Born again”: A nona faixa do álbum é assinada por Daniel Costa, companheiro de outrora nos tempos de Hanagorik. Born again é uma canção com forte apelo “noventista” (década de 1990), remotando ao chamado “nu metal”, seja na melodia ou na voz do Jones, que aqui explicita um de seus nichos influenciadores “(…)I hope my life wild, i feel free into my mind, i don´t want feel like just a fool who leads me (….)”. Ao fechar os olhos, o ouvinte, por vezes, se sente curtindo uma das faixas da banda americana Korn ou de outra banda similar do gênero. Dois terços da faixa seguem essa linha, alternando guitarras “dedilhadas” com trechos em power acords, um baixo marcante e uma bateria caracterizada levada sem rodeios e viradas chamativas. O terço final da faixa traz uma mudança interessante, com um desfecho mais rabuscado, inclusive com o incremento de arcos vocais.
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10 – “Mad about Love”: Nessa composição, Tuca vai beber da fonte dos grandes mestres da guitarra e da música em geral: o Blues. Assim segue a canção, com todos os elementos que o estilo requer: as guitarras, na já consagrada levada pausada, dão o tom do andamento, com solos em escalas pentatônicas, variação de tonalidade e com baixo e bateria e teclado dando o corpo musical necessário à harmonia do magical instrumental trio. Fica a impressão que a voz do Jones poderia sim (como faz) simular as cantorias dos negros americanos colhedores de algodão “(…)Mad about love, mad about the things she does(…)”, com a emoção que o gênero pede, mas com menor intensidade nos volumes, diminuindo o clima gritado.
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11 – “You don’t know how to treat me right”: Pra encerrar o álbum e pra iniciar a divulgação de singles, a Stone Breeze escolheu uma canção estrategicamente pensada. You don’t know how to treat me right é uma faixa quase folk, swingada, com backings vocais marcantes, piano (inclusive com solo), solos de guitarra oitavada e fraseados intencionais, à qual o ouvinte pode sentir a participação de todos os integrantes da banda em equidade. É a maior faixa do álbum. Seu refrão pegajoso (sem ser pejorativo) dá, ao ouvinte da faixa, a vontade de bater palmas e cantar junto. A letra trata de um amor mal correspondido e de resignação sentimental, num tom otimista, como tem que ser “…You don’t know (how) treat me right, fill my soul (honey) with those lies (…)I can’t find the truth when I’m looking trough your eyes…”. A canção agrada muito aos ouvidos mais sensíveis e encerra o trabalho inicial da Stone Breeze num clima reticente de leveza.
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Dessa forma, a Stone Breeze nos traz um álbum diversificado, rico do ponto de vista musical e que demonstra que seus integrantes estão focados em traçar uma trajetória por vezes austera, por vezes descontraída. Arrisco a opinar que a participação vocal do Jones Sena, de uma forma geral, poderia ser um pouco mais “breeze” do que “stone”, talvez por esse que vos fala gostar do seu tom de voz mais ameno. Mas em que isso importa? Quase nada, afinal: Se o nome faz jus ao que se espera… Realmente a banda soa firme como uma rocha e leve como uma brisa. A rock surubinense está vivo e muito bem ao vivo.

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