Transtorno Bipolar do Humor: o que é essa doença?

A psicose maníaco-depressiva ou simplesmente transtorno bipolar do humor, descoberta por Emeril Krapelin em 1913, se caracteriza pela constante e abrupta oscilação de humor; ora depressivo (episódios de melancolia e tristeza), ora maníaco (episódios de exaltação do humor, eufórico e hiperativo, o oposto do estado depressivo).

É uma condição patológica bastante impactante na vida do indivíduo, pois além do sofrimento psicológico, é capaz de trazer dificuldade de gerir finanças, relacionamentos, além de causar prejuízos irreparáveis na saúde e na reputação do mesmo. O transtorno não tem cura é de distribuição cosmopolita.

Em 2007, a Universidade Federal de São Paulo, em parceria com a Organização Mundial de Saúde, classificou a patologia na terceira colocação dentre as doenças mentais mais severas e presentes na sociedade, ficando atrás da depressão e da esquizofrenia.  Com dados precisos, a doença se manifesta em oito a cada cem indivíduos, equilibrando entre homens e mulheres; o diagnóstico mais preciso é realizado entre os 15 e 30 anos de idade, mas a doença também pode se manifestar acima dos 40, 50 anos.

“Normalmente, se acontecem coisas boas, as pessoas ficam alegres, se acontecer algo ruim, ficam tristes. Para quem tem transtorno bipolar, a lógica não é sempre essa”. (Sergio Niscrati, psiquiatra)

 

Causas

O principal fator desencadeante ainda é desconhecido, porém, o mais comum é a condição genética.  Outros fatores não tão latentes quanto à genética são o uso exacerbado de álcool e droga, ação desregulada de neurotransmissores – serotonina, noradrenalina e dopamina – e, em menor escala, a intensa atividade hormonal, esta sendo mais comum no sexo feminino; principalmente quando a mulher inicia o período da menopausa.

Tipos

O transtorno bipolar do humor não é único e varia de pessoa para pessoa. E, de acordo com o DSM IV e o CID-10 (manuais internacionais de classificação de diagnóstico) o transtorno bipolar do humor é classificado da seguinte maneira:

  1. Transtorno Bipolar tipo I: a fase maníaca (euforia) é predominante e a fase depressiva é menos acentuada;
  2. Transtorno Bipolar tipo II: a fase depressiva é predominante e a fase maníaca é menos acentuada;
  3. Mista: quando as oscilações, tanto maníaca quanto depressiva, se tornam constantes e simultâneas;
  4. Ciclos rápidos: quando as oscilações de humor são rápidas, durando menos de uma semana;
  5. Ciclotímico: os sintomas persistem por pelo menos dois anos, não fazendo distinção de potencialidade da mania ou depressão.

 Como identificar um bipolar?

A maneira mais simples e sugestiva para identificar um bipolar é atentar quanto aos episódios oscilantes de humor e, principalmente, os sintomas das duas fases. Não existe tempo padrão para cada fase.

As fases maníacas possuem como sintomas clássicos a fala e pensamento acelerados, alta capacidade de distração e dificuldade de gerir atividades que necessitam organização (desempenho profissional e atividade social, por exemplo). Em casos mais graves, o indivíduo pode apresentar delírios de grandeza e perseguição. Por isso, com esses sintomas quando muito presentes, o indivíduo pode ser confundido como esquizofrênico. Outros sintomas como irritabilidade, perda do sono, inquietude, impaciência, impulsividade e fuga de ideias podem aparecer.

As fases depressivas são caracterizadas por sintomas clássicos da depressão, como melancolia constante, falta de apetite, ausência de prazer, sensação de ser inútil, ideias e planejamentos suicidas, culpa excessiva, isolamento social, autoestima baixa entre outros.

Lembrando que o diagnóstico preciso somente o médico psiquiatra é capaz de realizar e sua maneira é através da observância e relato dos sintomas com base na história. Geralmente, segundo a literatura, o diagnóstico preciso é de 4 a 8 anos. Entretanto, o diagnóstico tardio é um dos maiores problemas nessa doença, pois a maioria das vezes é tida como depressão e a ida aos dois extremos do indivíduo não é levado em conta.

Sentimentos à flor da pele: do céu ao inferno

“Não tinha ideia do que estava acontecendo comigo. Ia trabalhar todos os dias, mas, quando o ponteiro marcava três horas, era como se fosse um relógio biológico, eu precisava largar tudo o que estivesse fazendo e sair correndo para casa. Porque era insuportável continuar. Eu me jogava na cama e apertava o edredom contra meu peito, a sensação era que ele estava completamente aberto, sem nenhum tipo de proteção e coisas poderiam escapulir dali. Doía muito e o cobertor me dava segurança. Pouco depois, soube que isso se chamava angústia”.

Trecho do livro Não sou uma só: Diário de uma bipolar, de Marina W. (Editora Nova Fronteira). O livro foi escrito por ela mesma e trata de sua vida enfatizando os períodos de alegria e angústia constantes. A descoberta da doença veio 20 anos após ser casada e mãe de dois filhos.

A vida de um bipolar

Embora complexa devido às crises, a vida do bipolar pode ser como quaisquer outras. Assim como outras doenças psiquiátricas, o transtorno – conforme dito antes – não tem cura, mas pode ser controlado. É como a diabetes ou hipertensão: a doença está presente, mas o indivíduo reconhece os sinais, controla e convive normalmente.  O importante para quem tem o diagnóstico definido é não interromper a terapia medicamentosa, nem a comportamental.

Tratamento

O tratamento é realizado através de medicações, psicoterapia e mudanças no estilo de vida, com o fim de uso de álcool e drogas psicoativas, alimentação e sono saudáveis e redução do estresse. Apegar-se a fatores de equilíbrios e, ao mesmo tempo, afastar-se dos fatores de risco é uma ótima e eficaz maneira de prevenção.

O uso contínuo dos estabilizadores do humor (medicações usadas no transtorno) é fundamental não somente para manter o quadro do humor estável, mas também para prevenir o aparecimento de alterações bioquímicas a determinado grau de perda neural.

Em contrapartida, a resistência ou nãoaderência ao medicamento e o processo de involução do quadro podem causar danos celulares secundários e modificar de maneira abrupta e, por vezes irreversível, o processo cognitivo, curso e prognóstico da doença.

Importante saber!

O indivíduo bipolar tem que ter em mente que seguir à risca o tratamento (medicamentoso e psicocomportamental) é essencial porque é uma forma bastante objetiva – e simples – de prevenir as crises de instabilidade emocional.

As medicações podem não trazer o efeito desejado logo no início, pois há um tempo para o organismo se adequar ao componente químico do psicotrópico. O paciente acredita encontrar mais solução no álcool e na droga, em decorrência de seus sintomas serem mais imediatos dependendo do que esteja usando, mas essa prática só agrava o quadro.

Manter-se estabilizada, sem a latência das fases pode dar a falsa sensação de cura, mas a estabilidade emocional é resultado das terapias. Esse momento é perigoso, pois o indivíduo acredita estar curada e decide cessar com a medicação.

A família pode também pode ter acompanhamento psicológico, pois as crises podem afetar quem convive diretamente com o paciente. É também uma excelente maneira de aprender a lidar com quem é portador.

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