Transtorno Obsessivo Compulsivo

TOC: faça o que eu digo, não faça o que eu faço.

O TOC (transtorno obsessivo compulsivo) é uma síndrome de ansiedade cuja principal característica é o aparecimento de constantes e persistentes crises de obsessão e compulsão acerca de determinada situação. Essas crises podem aparecer na forma de manias e rituais. O indivíduo portador de TOC se caracteriza por apresentar pensamentos, sentimentos, ideias, sensações e comportamentos repetitivos e indesejados os quais o levam a realizar coisas que, segundo ele, são forçadas, involuntárias e incontroláveis.

O transtorno obsessivo compulsivo tem a curiosa fama de ser o distúrbio psiquiátrico mais “louco” de todos, devido ao fato de suas manifestações parecerem mais desconcertantes e difíceis de compreensão, além de serem perturbadoras para pessoas que mantém convívio próximo com o indivíduo portador da doença.

Relação obsessão x compulsão

Obsessões são ideias que se impõem ao sujeito em forma de pensamento indesejável e involuntário, ou seja, elas surgem mesmo quando ele não quer. Na maioria das vezes, essas ideias são desejos ou impulsos que parecem estranhos ao indivíduo. Exemplo: uma mãe amorosa com seus filhos fica assustada, porque lhe surge – de repente – o desejo de que eles morram, ou mesmo um impulso de matá-los. Pode, inclusive, surgir formar bizarras, como uma pessoa muito religiosa idealizar blasfêmia, como imaginar Jesus Cristo nu durante a missa.

Já o comportamento compulsivo surge como forma de exorcizar as ideias obsessivas, ou seja, como uma forma de ‘medidas de proteção’ para evitar que elas se realizem. Assim, o paciente executa alguns rituais:  cumprir certos preparativos antes de sair de casa, como verificar diversas vezes a fechadura e, assim por diante. Embora o indivíduo saiba “driblar” os pensamentos obsessivos, geralmente sucumbe ao cumprimento das práticas compulsivas. Estas, por sua vez, se tornam estressantes e cansativas, mas funcionam como uma espécie de válvula de escape contra as obsessões.

Manias e rituais: o que são?

Embora um comportamento maníaco seja definido como distúrbio psiquiátrico único, a mania se torna comorbidade (quando duas ou mais doenças estão etiologicamente relacionadas) no TOC como sintoma clássico. A mania é definida psiquiatricamente como um estado alterado o qual produz ao indivíduo uma postura eufórica, acelerada e irritada. A elevação do humor é seguida por um aumento dos níveis energéticos, que resulta em hiperativade, fala pressionada e, principalmente, redução do sono.

Na prática do TOC (comportamento compulsivo), as manias são comportamentos repetitivos impulsionados por crenças e superstições.  De certa forma, é normal ter mania – quando controlada, claro – pois ela é uma forma eficaz de organização da rotina. Contudo, o problema é o seu agravo, pois faz tornar o indivíduo patológico.  Exemplo: verificar por mais de cinco, dez vezes, a fechadura do carro ou de casa após trancar. Repetição exagerada de gestos também é considerada mania.

Já os rituais são comportamentos esquisitos (para o portador são ‘comuns’) não tão repetitivos quanto à mania, mas realizados de maneira programada levando em conta a mística de uma determinada crença. Exemplo: lavar a mão várias vezes antes de cumprimentar alguém por achar que, se não realizar esse ato, estará contraindo uma doença grave ou arrumar objetos de maneira meticulosa baseando-se em superstições. O ritual varia de indivíduo para indivíduo, contudo, estará sempre presente em certa obrigação de cumpri-lo; se não o fizer, algo ruim pode acontecer.

Causas

As causas que desencadeiam o TOC não são bem esclarecidos, porém, trata-se de uma disfunção multifatorial. Pesquisas indicam o aparecimento de alterações na comunicação entre determinadas áreas cerebrais as quais utilizam a serotonina. O uso abusivo de álcool e droga também é um fator importante.

Fatores psicológicos e a genética – histórico familiar – também são fatores predisponentes no surgimento deste transtorno. Alguns estudos relacionam o TOC à anomalias cerebrais, lesões no córtex e traumatismo craniano, mas, ainda assim é necessário mais pesquisas para se chegar a uma conclusão.

Lavar as mãos incessantemente é uma característica do TOC | Foto: ilustração

Lavar as mãos incessantemente é uma característica do TOC | Foto: ilustração

 Sintomas e tratamento

O quadro sintomatológico do TOC é a caracterização da obsessão que, como vimos, leva a realização de atos compulsivos; ansiedade, inquietude, estresse, irritabilidade, nervosismo, euforia e fala acelerada são sintomas clássicos. O tratamento do transtorno é baseado em terapia medicamentosa e comportamental. Sendo o medicamento, geralmente usado um antidepressivo chamado de ‘inibidor seletivo da recaptação de serotonina’. Dentre as mais comuns, temos: Citalopram (CELEXA), Fluoxetina (PROZAC), Fluvoxamina (LUVOX), Paroxetina (PAXIL) e Sertralina (ZOLOFT).

Já a terapia comportamental é uma abordagem que não envolve medicamentos. Seu objetivo é expor o paciente às situações que geram ansiedade, iniciando por sintomas mais brandos. Os resultados são mais eficazes quando há a junção de ambas as terapias.

O sinal

Além da mania não-patológica, assim dizendo, existe o SOC – sintoma obsessivo compulsivo.  O SOC é importante para a vida do indivíduo, desde que seja controlado. Quase todo mundo tem. Exemplo: verificar, ao sair de casa, se o gás da cozinha está fechado, após vir à mente o impulso para fazê-lo. Esse ato é importante porque indica prevenção. Sabemos que há muito acidente doméstico em decorrência da não verificação do gás após sair de casa.

Normalmente, o indivíduo considera isso como preocupação excessiva, chata, neurótica. Quando, na verdade, não é. Contudo, a partir do momento que o sintoma obsessivo compulsivo começa a prejudicar a vida do indivíduo – relação interpessoal, familiar e trabalho – ele passa a se tornar TOC, ou seja, passa a se tornar patológico.

A diferença de tique para TOC

O tique nervoso se caracteriza por sua prevalência de movimentos involuntários. Nesse sentido, compreende-se o tique como movimento do corpo o qual não temos controle. Exemplo: movimento muscular sem você impulsionar. Todo e qualquer tipo de tique é relacionado a condições de ansiedade e estresse. Mudanças bruscas no cotidiano, por exemplo, de uma criança podem ser responsáveis pelo surgimento de tique como resposta.

Ao passo que surgem espontaneamente, os tiques podem desaparecer também da mesma forma. Curiosamente, o tique diminui consideravelmente em atividades que exijam concentração. É importante, então, ressaltar a ineficácia de posturas como correção de tiques, uma vez que, sendo uma condição involuntária, a ausência de controle sobre esse comportamento que está sendo reprimido pode aumentar a ansiedade e o estresse.

As pessoas confundem tique com TOC justamente pela presença de movimentos repetitivos. É essencial, entretanto, ressaltar a diferença na origem dos acontecimentos. Vale lembrar que, no caso do TOC, os movimentos são voluntários, embora impensáveis.

Dados

Estudos realizados em diferentes países indicam para o transtorno obsessivo compulsivo uma prevalência atual em torno de 1% e, ao longo da vida, de 2 a 2,5%. Diferentemente de amostras clínicas, em quase todas as amostras populacionais há predomínio de mulheres e portadores que têm apenas obsessões, embora seja mais comum em homens. A frequente comorbidade com outros transtornos mentais, particularmente depressão e outros transtornos ansiosos, repete-se em casos da população geral, que apresentam ainda uma associação com abuso de substâncias químicas. A doença é comum aparecer com mais frequência durante a infância e, depois, na fase adulta – cerca dos 30 anos.

TOC no cinema

Há alguns filmes com atores renomados que expressam perfeitamente o TOC na sua essência. O melhor, na minha opinião, é o ‘Melhor É Impossível’ de 1997 – com Jack Nicholson. Nele um escritor (Nicholson) que tem TOC se recusa a fazer o tratamento e vive a vida com seus rituais. O interessante deste filme é a forma como ele (o escritor) fica perdido e nervoso quando alguém atrapalha seus rituais. Outro filme muito interessante é ‘O Vigarista’, de 2003 – com Nicolas Cage. Ele não trata diretamente sobre o TOC, mas o personagem principal (Cage) tem o distúrbio e sofre demais com isso. Roy (Nicolas Cage) é um vigarista que sofre de diversas fobias, que o deixam extremamente obsessivo.

Importante saber!

–  As manias comuns em nosso cotidiano, a fim de organizar nossa rotina, não são classificadas como doença quando não causam prejuízo na nossa vida, tampouco e pessoas próximas;

–  A partir do momento que obsessões e compulsões se tornam constantes e persistentes em nossa vida, a probabilidade de um diagnóstico de TOC é grande;

–  Crianças podem realizar certos rituais, o que é absolutamente normal. No entanto, é essencial a observância dos mesmos, levando em conta sua frequência e intensidade;

–  Os pais não devem compactuar com a perpetuação de manias e rituais de seus filhos pequenos. Devem ajudá-los a enfrentar os pensamentos e posturas persistentes, não valorizar e instigar;

–  O respeito e imediata aceitação dos rituais do portador de TOC podem gerar desconfortos na família. Por isso, é essencial o acompanhamento psicológico também da família;

–  Mascarar os sintomas por medo, insegurança ou vergonha é um péssimo caminho. Quanto mais adiar o tratamento, mais grave fica a doença.

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