Eu acredito na causa. Desde que não atrasem o pagamento

(opinião de: Leonardo Sakamoto)

Não consigo esconder minha azia diante do que chamo de “Mercenários do Ativismo”. Um pessoal que ocupa galerias do Congresso Nacional e participa de manifestações e protestos que, apesar de não acreditarem em uma única palavra do que propagam, defendem a posição até o último suspiro – desde que o pagamento seja feito nos conformes.

Eu sei que todos nós temos que comer no final do dia. E que não tá fácil pra ninguém… Mas é importante manter a dignidade para poder continuar andando de cabeça erguida. Isso é diferente de membros de partidos políticos, sindicatos e associações empresariais e organizações sociais – à esquerda ou à direita – que são assalariados para exercer uma função em uma estrutura como qualquer outro emprego. Ou seja, uma relação normal de compra e venda da força de trabalho.

Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Ou quando alguém decide dedicar sua vida a uma causa e é remunerado por isso – tenho preguiça do pensamento limítrofe que acredita piamente que o trabalho no terceiro setor deva ser voluntário e passar longe do profissionalismo como se isso o tornasse mais “puro” quando, na verdade, a experiência mostra o contrário. Como aquela história brega da pessoa que ia à praia, sozinha, salvar as estrelinhas-do-mar e achava que, com isso, estava revolucionando a existência humana…

O problema, a meu ver, é você afirmar que está em um protesto porque acredita na ideia nele defendida e não por conta do quanto recebeu para balançar a bandeira. Em outras palavras, o erro é a falta de transparência. Antigamente, os militantes do PT ocupavam a rua durante as eleições. Com o tempo, vieram os “moranguinhos remunerados”. No segundo semestre do ano passado, conversei com “sindicalistas” que estavam em marcha na avenida Paulista, em São Paulo, sem saber exatamente o porquê – mas com a promessa de ganharem um no final da tarde.

Em novembro de 2003, presenciei um caso pitoresco. Estava em Redenção, Sul do Pará, para cobrir um evento sobre o combate ao trabalho escravo. Na chegada à cidade, uma comitiva de ministros, parlamentares e procuradores de Brasília foi recebida com faixas que diziam: “Por que perseguem nossa região?”, erguidas por jovens vestidos de preto. O protesto havia sido organizado pelo Sindicato Rural de Redenção, que reúne proprietários de terra, e seria a prova de que a cidade estava de “luto” por conta de “acusações” de trabalho escravo.

Fui perguntar aos moradores a razão de serem contra o evento, quando ouvi uma irritada negativa. “Isso é coisa dos fazendeiros com o prefeito”, afirmou um deles. Já os jovens que seguravam as faixas nem sequer sabiam o porquê do protesto. Cada um havia recebido R$ 15 por dia para se vestirem de preto e segurarem as faixas. “Se me dessem R$ 15,50 para eu ir embora, eu ia”, disse um deles.

Estou limitando a ideia de Mercenários do Ativismo à atuação com presença física, mas é claro que comportamentos semelhantes ocorrem em todos os lugares, profissões e classes sociais. Inclusive, o pessoal que ganha um sanduba de queijo com presunto, uma lata de refri e 50 mangos para serem ativistas por um dia são os mais inofensivos. O drama de verdade reside em quem vende apoio durante as eleições, independente do posicionamento político do comprador – no jornalismo tem muito disso. Ou quem, pago por governos, faz guerrilha selvagem no dia a dia via redes sociais.

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