Renato Aragão, o Didi, completa 80 anos

Didi Mocó Sonrisélpio Colesterol Novalgino Mufumbo, ou apenas Didi Mocó. A história de Renato Aragão e o indefectível personagem se condensam numa só. O artista completa 80 anos nesta terça-feira (13), cinquenta deles dedicados à arte. Misto de Chaplin e Oscarito, em quem assumidamente se espelhou ao deixar Sobral, no interior no Ceará, e partir para o Rio de Janeiro, Renato marcou gerações com piadas nonsense, improviso e um estilo de comédia que revolucionou o entretenimento brasileiro.

“A história da tevê brasileira se mistura à de Renato Aragão. Ele foi para o Rio nos anos 1960 e a tevê tinha dez anos quando isso aconteceu. Ambos evoluíram juntos. Do ponto de vista comercial, Os Trapalhões não são comparados a nenhum outro programa, muito menos no humor”, acredita Luís Joly, autor de Os saltimbancos Trapalhões (Editora Matrix). Como protagonista e co-roteirista de Os Trapalhões, fez sucesso na telinha, nos palcos e na telona. Atuou em 47 filmes – cinco deles estão entre os de maior bilheteria na história do cinema brasileiro. Para especialistas, o sucesso comercial das comédias deve muito a Renato e a expertise em fazer o público rir — nem que seja de si mesmo.

Renato Aragão como Didi Mocó em cena do programa de TV "Os Trapalhões". Crédito: TV Globo/Reprodução

Renato Aragão como Didi Mocó em cena do programa de TV “Os Trapalhões”. Crédito: TV Globo/Reprodução

As piadas que fizeram graça para várias gerações funcionavam como retrato escrachado e sincero do Brasil que vivia em plena ditadura militar. “Naquela época, não havia como as minorias se expressarem porque nem a maioria tinha o direito de se expressar. O humor deles usava a rua como inspiração para as gírias, as situações, os personagens e até os cenários”, pontua Juliano Barreto, autor da biografia Mussum forévis — Samba, mé e Trapalhões (Editora Leya).

Embora já tenha lançado projetos sem os colegas, foi ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias que Aragão viveu o auge. Segundo Joly, os quatro humoristas se davam muito bem e mantinham uma amizade para além dos sets de gravação. O clima ameno prevaleceu até a primeira e mais traumática separação do grupo, em 1983. As brigas começaram pela diferença entre os cachês de Renato e o restante do elenco. Não é raro ver o nome de Aragão associado a polêmicas. Algumas, garante, não passam de boatos. A história do motorista que teria sido demitido por chamá-lo de “Seu Didi”, em agosto de 2012, é uma delas.

Recentemente, afirmou em entrevista à revista Playboy, que, quando Os Trapalhões era exibido, “os negros, os homossexuais e os feios não se ofendiam” com piadas que, por vezes, tinham tom pesado. Foi o suficiente para sociólogos, especialistas e uma parcela do público o condenarem pela falta de tato nas declarações.

Em 2014, Renato Aragão deixou o Brasil em estado de alerta. Seu coração quase sucumbiu à emoção na festa de 15 anos de sua filha mais nova, Lívian. Passou uma semana internado por causa de um infarto agudo no miocárdio. Superados os problemas de saúde, entrou em um projeto que tem sido aplaudido pela crítica: o musical Os saltimbancos Trapalhões, uma adaptação de Charles Möeller e Cláudio Botelho para o filme homônimo lançado em 1981, com músicas de Chico Buarque.

Bordões clássicos

No ar há mais de 30 anos na TV, Renato ajudou a popularizar bordões que caíram na boca do povo como os inesquecíveis “Ô, psit!” e “Ô da poltrona!”. Didi e sua trupe, claro, também adoravam uma boa briga, sempre precedida pelo grito “Porrada!!!”.

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