Resiliência: a palavra que define a trajetória de Jullie Dutra, nova milionária do Brasil

Se você acompanha noticiários, assiste televisão ou acessa redes sociais, muito provavelmente você ouviu, nos últimos dias, o seguinte nome: Jullie Dutra. Após se tornar a primeira pessoa a vencer o quadro “Quem quer ser um milionário”, exibido no Domingão com Huck, na TV Globo, a história da pernambucana se tornou conhecida no país inteiro.

Nascida em Limoeiro, mas morando desde os primeiros dias de vida até os 18 anos em João Alfredo, ambos municípios do Agreste do Estado, a jornalista tem uma trajetória marcada por desafios e superações. O pai foi assassinado quando ela tinha 5 anos de idade, ela enfrentou uma depressão severa após a morte da mãe, em 2013, e, então, direcionou seus esforços para a criação de uma agência de comunicação. No último dia 10, envolveu o Brasil ao responder corretamente todas as perguntas do game show.

De lá para cá, a rotina da vencedora ganhou escalas gigantescas. É presença constante em entrevistas, programas de rádio e TV, e, em poucos dias, ultrapassou os 350 mil seguidores em uma única rede social. Em meio a toda essa revolução, uma palavra tornou-se sinônimo da sua trajetória: resiliência. Inclusive, ela tem o termo tatuado em seu braço.

O comportamento da jornalista diante das dificuldades que marcaram sua vida, a dedicação aos estudos e a mentalidade do “eu vou conseguir” fizeram, na avaliação da própria Jullie, com que muitos brasileiros se reconhecessem em sua trajetória. A partir desse reconhecimento, veio a torcida durante o programa, torcida essa que se estendeu para o mundo pós-competição.

Durante a depressão, Jullie teve o apoio de amigos, poucos mas que não desgrudaram dela, como ela mesma relembra, e procurou ajuda médica e profissional. Fez uso de medicamentos por dois anos e segue com terapia até hoje. “Fui para psiquiatra, fiz medicação, para tentar superar. E falo isso tranquilamente porque as pessoas têm que parar de enxergar a medicação antidepressiva como associada à loucura. Ainda tem isso. Você enfrenta a depressão e enfrenta o preconceito de tomar um remédio para ficar bom. É luta, viu?”, contou.

O desejo de não esmorecer foi fundamental para que ela não desistisse dos seus sonhos, nem de si, e conseguisse se reerguer.

“A morte da minha mãe é um divisor de águas muito grande na minha vida e eu tinha dois caminhos: ou eu seguia ou eu não seguia, era bem isso. Essas duas alternativas eram as que se apresentavam para mim. Eu entrei em depressão, então tinha essas duas possibilidades: abreviar a minha vida ou seguir. E eu não tinha uma estrutura de apoio, então é muito mais difícil você superar uma depressão sem rede de apoio. Eu gosto de falar muito desse tema porque têm pessoas que têm a rede de apoio e que não pedem ajuda. E eu não tinha rede de apoio familiar e saía pedindo ajuda a todo mundo”, disse.

A resiliência, reflete, foi um processo de construção. “Já passei por muita coisa na minha vida e me mantive, dentro do possível, com a capacidade de me adaptar a determinadas situações, sabe? A gente vai lapidando isso, vai maturando. Ninguém nasce assim, resiliente, a gente vai construindo a resiliência. Às vezes, você constrói de uma forma muito forçada. Foi o meu caso”, comentou.

Aos 18 anos, ela saiu de João Alfredo para o Recife, onde, após formada, trabalhou em diferentes veículos de comunicação, incluindo a Folha de Pernambuco. Um dos motivos que a fez abrir a própria empresa, enquanto lutava contra a depressão, foi ter mais tempo com a avó, hoje com 87 anos, já que ela havia permanecido no interior do Estado. “A minha família era minha avó. Ela já estava velhinha, tinha perdido a filha, e precisava de mim”, recordou. Hoje, a agência de marketing digital fundada em 2014 conta com 14 colaboradores e mais de 50 clientes ao redor do Brasil.

Há dois anos, Jullie iniciou os estudos para ingressar na carreira de diplomata, considerado um dos concursos mais difíceis do Brasil. A rotina de estudos é intensa e acontece durante o dia, enquanto a filha de três anos, que está dentro do espectro autista, está na escola ou na terapia, e à noite, quando a pequena está dormindo.

Com o alcance que conquistou nas redes sociais, Jullie pretende abordar temas que lhe são caros, como a própria luta em prol de pessoas dentro do espectro, a importância da educação e o empoderamento feminino. Quanto à diplomacia, ela é categórica e dá como certa, diante de todo o empenho e dedicação, e agora com a possibilidade de investir na sua preparação, a futura nomeação ao cargo.

(Fonte: Folha PE)

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