Sobre crimes: menos imediatismo, mais estruturalismo

OPINIÃO /// Senti na pele a sensação de impunidade. Num passado remoto fui assaltado em Surubim e desencorajado pelo escrivão da polícia, que estava com “preguiça” de registrar o BO. Apesar dos pesares, não enxergo o banditismo exclusivamente como fruto de desigualdade social e falta de oportunidade. Cada caso é específico, precisa ser avaliado dentro de um contexto socioeconômico ou, talvez, analisado psiquiatricamente.

A priori, o importante é não pender para a desumanidade na hora de revoltar-se contra as injustiças. A intolerância vem se tornando viral, a eloquência rasteira de parte da imprensa é facilmente absorvida como “verdade absoluta” por pessoas intelectualmente vulneráveis. A jornalista Rachel Sheherazade – versão feminina de Arnaldo Jabor –, é um exemplo irresponsável, que causou polêmica tempos atrás com a afirmação “adote um bandido” (ironizando a cartilha dos Direitos Humanos).

Palestrando no seminário sobre maioridade penal: Evandro Barbosa da Costa , pós-graduando em Direito Penal e Processo Penal, Estagiário da Defensoria Pública de Surubim e Policial Militar. | Foto: divulgação

Palestrando no seminário sobre maioridade penal: Evandro Barbosa da Costa , pós-graduando em Direito Penal e Processo Penal, Estagiário da Defensoria Pública de Surubim e Policial Militar. | Foto: divulgação

Aproveitando o gancho do seminário ocorrido no auditório Dr. José Nivaldo na última quinta-feira sobre diminuição da maioridade penal, deixo a seguir a opinião do jornalista Giovanni Giocondo, que interage comigo casualmente pelo Facebook: “O sistema penitenciário brasileiro é falido e tem inúmeros personagens envolvidos. Esses indivíduos estão diretamente interessados na não recuperação dos detentos, mesmo os de menor periculosidade. São policiais, advogados, juízes, promotores, agentes penitenciários, diretores dos presídios, deputados, traficantes de armas e drogas e outros exemplos de pessoas que faturam alto com a manutenção das cadeias superlotadas e seus consequentes motins, fugas, assassinatos e torturas envolvendo detentos e funcionários. Querer enfiar adolescentes infratores no meio desse caos é, resumidamente, apoiar o aumento da barbárie que já está instalada”.

O fato é que grande parte dos brasileiros não tem discernimento para opinar em plebiscitos sobre aborto, casamento gay, criminalização da homofobia, legalização da maconha e diminuição da maioridade penal. Falta conhecimento, coleta de informações. Sobra presunção, análises rasas, ódio.

Incitar a crueldade para com criminosos, num processo mútuo de revide, é algo trivial. Conheço até cristãos raivosos, afeiçoados no pensamento “bandido bom é bandido morto”. Nada mais contraditório, hipócrita… Sem vestígio samaritano. Aderir a “aura militar” para reivindicar é descabido. Porque todo camburão tem um pouco de navio negreiro, enquanto a burguesia desacata autoridades e passa constantemente em impune devido às regalias do status detentor.

Em suma, o Conselho Municipal de Juventude está aberto para esclarecimentos em Surubim. Outros órgãos também podem auxiliar. A meu ver, as políticas de prevenção, as políticas públicas são o caminho; o mal precisa ser cortado pela raiz. De acordo com um artigo da Carta Capital, se cadeia resolvesse o Brasil seria exemplar. O nosso país nos últimos 15 anos é o segundo do mundo em número de prisões e, ainda assim, o líder em homicídios.

E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial perdoe os seus pecados. Mas, se vocês não perdoarem, também o seu Pai que está nos céus não perdoará os seus pecados. (Marcos 11:25-26)

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